Jornalismo: prática, ensino e papel social do conhecimento moderno

18/09/2014 23:05
Por Carlos Marciano,
Jornalista e mestrando junto ao POSJOR/UFSC

 

foto 4Em meio às influências das mudanças tecnológicas, qual o papel social, como ensinar e praticar IMG_20140917_161455875jornalismo?  O Dr. Wolfgang Donsbach, da Universidade Técnica de Dresden, foi quem abordou o tema durante a aula magna do Programa de Pós-Graduação em jornalismo, realizada no dia 17 de setembro, última quarta-feira. Acadêmicos e membros do corpo docente lotaram o auditório Elke Hering, da Biblioteca Universitária,  e ao final participaram do debate com o palestrante.

De acordo com Donsbach, a principal dificuldade para suprir as questões referentes ao jornalismo moderno se deve a grande preocupação com a tecnologia e não com o conteúdo. Para suprir essas carências ele sugere algumas mudanças de atitudes.

Aprimorar as técnicas e almejar maior exatidão sobre os fatos é uma delas. Para isto ser alcançado, uma alternativa é o jornalista atuar também como um pesquisador, ou seja, procurar evidências que comprovem suas informações com mais precisão.

A crise no jornalismo também foi abordada em vários momentos da conversa. Não existe consenso sobre sua real existência e em que medida esta se aplica. No entanto, alguns pontos sobre esta suposição foram debatidos.

Um dos principais fatores foi a chegada da internet e a forma como a informação é difundida neste meio.
Ela proporcionou o que Donsbach menciona como “democratização da notícia”, ou seja, a participação mais ativa do cidadão com sugestões sobre a produção de notícias bem como a seletividade do conteúdo de interesse.

Indicadores comerciais é outro fator. Muitas vezes questões referentes à tradição comercial batem de frente com aquelas relativas às de interesse público. O professor citou como exemplo o fato de notícias perderam espaço para anunciantes, ou quando o corte de custos atinge diretamente os profissionais e como consequência gera-se a queda de qualidade no veículo.

Para Donsbach, um fator puxa o outro. Um corte nas redações, por exemplo, afetará a maneira como a imprensa cobre a realidade. Se esta nova maneira não agradar começa a se perder o conhecimento, pois o público deixa de consumir notícias e consequentemente outras formas de atraí-lo deverão ser pensadas, como o entretenimento, cada vez mais frequente.

foto 1Autores como Walter Lippmann, Jürgen Habermas e Francisco Karam (coordenador do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo) foram citados por Donsbach para embasar seus estudos, que além dos temas já mencionados trataram também de outros assuntos da área como esfera pública e informação compartilhada.

Para o professor, estimular algumas competências pode contribuir na forma de se fazer e ensinar jornalismo. Os jornalistas devem estabelecer relações entre os fatos e, no intuito de analisar a importância dos eventos e reconhecer informações relevantes, precisam saber como aprimorar capacidades analíticas, criticas e narrativas para melhor conhecimento e disseminação do tema.

É necessário entender como o mundo funciona, aprimorar a competência da causalidade que, para ele, é essencial durante a avaliação dos fatos. Deve-se estimular também a competência do processo e assim compreender como o jornalista trabalha com o público e se estas atitudes estão surtindo efeito.

Donsbach reforçou que a razão mais importante para a existência do jornalismo é a validação de informações. Assim, repensar o todo é essencial. Ações que viabilizem a produção não fazem sentido se o conteúdo não for atrativo, afinal, “até o melhor jornalismo precisa de mercado, mas se ninguém quiser ler…”.